"Não mói com águas passadas,

o moinho, diz o refrão.

Como é dos mais diferentes

o moinho do coração..."

Logradouro Belle Époque


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sábado, 30 de maio de 2009

O Logradouro - A História (segunda parte)


Sítio Pau do Alho
Pacoti - Ceará - Brasil
Sobrado do Pau do Alho
Localizado na entrada de Pacoti, o Sítio Pau do Alho foi comprado pelo coronel José Marinho Falcão de Goes ao seu primo Aprígio Alves Barreira Cravo.
Uma construção arrojada, do final do século XVIII, que abrigava no sótão uma das únicas senzalas da Serra.

O Pau do Alho foi uma das poucas propriedades da Serra de Baturité que não pertenceu aos BORIS (Boris & Frères).
O Coronel Epifânio vendeu ao seu amigo Aprígio Alves Barreira Cravo, e este vendeu a seu primo e meu avô José Marinho Falcão de Goes. Desde então o casal, José Marinho e Angelina passou a residir definitivamente nesse velho sobrado.

Nesse mesmo sobrado, em 8 agosto de 1889 (três meses antes da Proclamação da República) foi servido um banquete ao Conde D’Eu, casado com a princesa Isabel. O Príncipe consorte e sua comitiva estiveram aí por ocasião de sua passagem pelo Maciço de Baturité, quando a propriedade ainda pertencia ao coronel Epifânio Ferreira Lima.



O coronel José Marinho, hospedou também aí, reiteradas vezes, o advogado e poeta cearense Quintino Cunha, seu colega de colégio e amigo de infância.
Em uma dessas visitas o irreverente poeta compôs a belíssima poesia – Comunhão da Serra – presenteando-a ao amigo anfitrião.
Tempos depois, João Quintino compôs uma melodia para os versos do irmão, cantada em muitos serões, em reuniões festivas e serestas que se faziam pelos inúmeros recantos da Serra.


COMUNHÃO DA SERRA
José Quintino da Cunha (1875-1943)

Ontem, à noite, eu vi a minha Serra,
Como uma virgem, trêmula, contrita,
Recebendo de Deus, daqui da terra,
Uma hóstia do Céu, hóstia bendita.

Como foi, para vê-la assim? De neves
Era o véu transparente, que a cobria,
Vendo-se aqui e ali negros tons leves,
Do negro que do verde aparecia.

Tons negros, talvez restos, que os comparo,
De alguma nuvem torva, esfacelada.
Por Deus, que só queria o Céu bem claro,
Porque ia dar a hóstia consagrada!

O cafeeiral, que rebentava em flores,
A grinalda na fronte lhe botava;
E o frio, rebento dos temores,
No seu íntimo, o frio rebentava!

Assim a Natureza era o sacrário,
De onde Deus dava a comunhão radiosa
À Serra! E era o Céu o grande hostiário
E era a lua, a hóstia luminosa.

E digam que eu não vi a minha Serra,
Como uma virgem, de grinalda e véu,
Recebendo de Deus daqui da terra,
A hóstia luminosa lá do Céu!


Vista lateral do SOBRADO
O coronel José Marinho e Dona Angelina, meus avós paternos, moravam no Sítio “Pau-do-Alho”, em Pacoti, quando José, meu pai, iniciou seus estudos em 17 de janeiro de 1930, com a professora dona Maria Estella.
Logo em seguida, nesse mesmo ano, foi matriculado no Patronato das Irmãs de São Vicente de Paulo, uma Instituição que aí se estabeleceu por iniciativa de Dona Angelina, em terras doadas pelo casal que sempre manteve sua incondicional ajuda. Tempos depois, o filho Zelito fez outras doações de terrenos para ampliação da sede e do sítio onde ficou sediado o Instituto Maria Imaculada.
Nesse colégio ele foi alfabetizado pela Irmã Olga Ferraz, paulista de nascimento, muito culta, uma das fundadoras daquela instituição de caridade, dirigida por ela durante muitos anos.
No dia 18 de março de 1932 foi interno no Colégio dos padres Salesianos, em Baturité.
No dia 3 de novembro desse mesmo ano de 1932, faleceu o Dr. Barreira aos 52 anos de idade, o pai biológico de José, a quem ele tinha como um tio muito especial e querido, mas desconhecendo que era ele o seu verdadeiro pai...
Em março de 1933 José foi para o internato dos padres Jesuítas, na Escola Apostólica de Baturité, e aí permaneceu até o final do ano de 1934.
Depois em Fortaleza, estudou no Colégio São João, no Colégio Fortaleza e no Colégio Cearense, tendo feito grandes e valiosas amizades entre os colegas destes conhecidos estabelecimentos de ensino pelos quais ele passou, sempre citados com muito carinho em suas histórias.

No início 1945, quando cursava o final do terceiro ano do segundo grau, faleceu na cidade do Rio de Janeiro, seu pai José Marinho Falcão de Góes.
Zelito, como era chamado pelos colegas e amigos, sendo filho único do casal, teve que abandonar os estudos para administrar as inúmeras propriedades que ficaram a seu encargo e de sua mãe Angelina.
Os sítios na Serra de Baturité: Logradouro, Pau do Alho, Nancy, Casa Branca, Sobradinho, Assaré, Estados Unidos, Tijuca, Paca, entre outros; e as fazendas em Quixeramobim: Cachoeira e Jacaraí, localizadas no distrito de Uruquê.

Placa denominando a Rua principal na entrada de Pacoti.

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Meu aniversário comemorado no velho sobrado...

José Marinho Falcão de Góes
faleceu no Rio de Janeiro em 24 de maio de 1945, aos 69 anos de idade.

Angelina Ellery Marinho de Góes (Dindinha)
faleceu em Fortaleza, em 8 de janeiro de 1958, aos 64 anos de idade.

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